O Estado foi o primeiro do Norte/Nordeste a clonar vacas da raça Guzerá, que tem alta produtividade de leite
Os
três animais nasceram nos últimos dias 6,7 e 8 de março e serão
levados, em breve, para a Fazenda Teotônio, no município de Madalena.
Entre as características dos bezerros, está a resistência ao clima
semiárido
FOTO: NATINHO RODRIGUES
A agropecuária
cearense deu um importante passo para o desenvolvimento de rebanhos
bovinos de alta qualidade. O Estado é o primeiro do Norte/Nordeste a
produzir clones de vacas da raça Guzerá, a partir de matrizes de
excelência genética, que reúnem as características da alta produtividade
de leite e da resistência ao clima semiárido. A experiência, fruto do
empenho da Universidade de Fortaleza (Unifor), por meio do Centro de
Ciências da Saúde, e da Agropecuária Esperança, resultou no nascimento
de três animais, nos dias 6,7 e 8 de março.
Para o
superintendente de agropecuária do Grupo Edson Queiroz, Henrique Braga,
os clones são como "um divisor de águas" na bovinocultura do Estado.
"Estamos replicando animais com mais de 20 anos de idade, com produção
média de 30 litros de leite por dia, e que se reproduzem quase todo ano.
Com isso, vamos melhorar cada vez mais o nosso plantel de matrizes e,
também, a rentabilidade do negócio", avalia.
As vacas
doadoras são da Fazenda Teotônio, no município de Madalena, onde se
encontra a melhor linhagem da raça Guzerá do Brasil. O processo ocorre
da seguinte forma: é coletada uma célula da orelha do animal matriz, que
é levada ao laboratório e cultivada in vitro. Daí, ocorre a
multiplicação da célula, que é transformada em embrião.
Este organismo
gerado é inserido em uma vaca receptora, que serve como uma espécie de
"barriga de aluguel", depois de ser preparada hormonalmente para isto. O
processo simula uma gestação convencional.
Após 30 dias da
implantação do novo ser na barriga da receptora, é feito um teste de
ultrassom, para constatar se a prenhez se consolidou. Nem todos os
embriões se desenvolvem e geram gravidez. É comum que os animais tenham
problemas logo após o parto. Assim, o nascimento dos três clones é
considerado extraordinário. "Isso é uma raridade dentro da clonagem: não
ter perdas gestacionais nem pós-natais", avalia o professor e
pesquisador Marcelo Bertolini, da Unifor, que acompanhou o procedimento.
Conforme o
pesquisador, as vacas clonadas nasceram por parto cesariano e estão
saudáveis, podendo ser levadas, em alguns dias, para a Fazenda Teotônio.
A expectativa, segundo o superintendente de agropecuária do Grupo Edson
Queiroz, é ampliar o projeto. "Daremos sequência à iniciativa,
selecionando sempre os melhores animais do plantel para replicar,
fazendo com que a fazenda ganhe qualidade e produtividade ainda
maiores", planeja Braga.
Aproveitamento
Conforme a
professora e pesquisadora Luciana Bertolini, da Unifor, as duas vacas
que serviram de matrizes não estavam mais em idade reprodutiva, e a
clonagem serviu para aproveitar as suas qualidades genéticas em outros
animais, garantindo assim a continuidade dos benefícios.
"O clone é uma
cópia idêntica do doador. Passando a fase inicial, que requer maiores
cuidados, são animais perfeitamente normais, que vão crescer e se
reproduzir como qualquer outro", explica Luciana. Cerca de 20 pessoas
fazem parte da equipe que acompanha o desenvolvimento dos três clones.
De acordo com a
professora, as vacas utilizadas como matrizes são mãe e filha. Com o
nascimento dos clones, foi possível que duas gerações "nascessem" ao
mesmo tempo.
No futuro, o
grupo de pesquisa da Unifor pretende trabalhar com a modificação
genética de bovinos, com o objetivo de produzir um leite dotado de
propriedades terapêuticas, com as chamadas "proteínas recombinantes". As
substâncias, quando desenvolvidas, poderão ser utilizadas na produção
de vacinas para doenças como brucelose, leptospirose e tuberculose,
tanto para animais como para humanos.
"Essa
eficiência, de produzir três clones a partir de uma única sessão, nos
mostra que a tecnologia está funcionando bem, e que poderá ser, em
breve, utilizada como uma base para a nossa pesquisa laboratorial que
busca a produção de proteínas farmacêuticas", finaliza o professor
Marcelo Bertolini.
Fonte: Diário do Nordeste
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