Cassini
voará a 'apenas' 5 mil metros da superfície de Enceladus, que
surpreende cientistas com jatos 'escondendo' um oceano sob camada de
gelo.
Jonathan AmosCorrespondente de Ciência da BBC News
Jatos gelados emitidos a partir do Polo Sul têm intrigado os cientistas (Foto: Nasa)
A sonda
americana Cassini iniciou os procedimentos para seu aguardado "rasante"
da superfície de Enceladus, uma lua de Saturno que vem intrigando os
cientistas.
A partir de 15h
de Brasília nesta quarta-feira, a nave iniciou um voo de
reconhecimento, a apenas 5 mil metros de altura, para tentar "provar" a
atmosfera de Enceladus. Mais especificamente a química dos jatos d'água
que a lua emite a partir de seu polo sul.
Nos últimos
anos, Enceladus revelou uma série de segredos que, para cientistas,
fazem do satélite natural de Saturno um dos mais promissores locais para
se encontrar algum tipo de vida extraterrestre.
'Condições Benignas'
Cientistas
dizem que a lua tem um imenso oceano escondido debaixo de uma camada de
gelo, cujas condições seriam "benignas" o suficiente para a
sobrevivência de micróbios.
"Enceladus não é
apenas um mundo d'água. É um mundo que pode proporcionar um meio
ambiente habitável para a vida como conhecemos", afirma Curt Niebur, um
dos cientistas.
"Vamos ter a
chance de mergulhar mais profundamente nos jatos vindos do polo sul. E
poderemos coletar a melhor amostra já obtida de um oceano
extraterrestre".
Cientistas esperam encontrar hidrogênio como prova da existência de vida (Foto: Nasa)
Uma das
principais missões da Cassini será tentar detectar moléculas de
hidrogênio. Isso seria um sinal da existência de respiradouros quentes
no fundo do oceano gelado. Isso seria outro fator que poderia contribuir
para a existência de vida.
Tais
respiradouros existem na Terra e fornecem energia e nutrientes para
ecossistemas marinhos de alta profundidade. Nesses sistemas, a água é
puxada para o leito rochoso, aquecida e saturada com minerais antes de
ser expelida.
Bactérias prosperam nesse ambiente, criando uma cadeia alimentar que suporta organismos mais complexos.
Mas se isso está acontecendo em Enceladus, no momento, é apenas especulação.
"A quantidade
de hidrogênio emitido vai revelar quanta atividade hidrotérmica está
realmente acontecendo no leito do oceano e quanta energia está sendo
gerada", explica Linda Spilker, do Laboratório de Propulsão a Jato da
Nasa, a agência espacial americana.
O resultado das análises, porém, só deverá ser conhecido em dias ou semanas.
"Teremos uma
primeira chance de analisar os dados sobre gases e partículas em até uma
semana após o 'rasante'. Nas semanas seguintes, faremos uma análise
mais detalhada para nos ajudar a entender o que está acontecendo em
Enceladus", completa Spilker.
A Cassini está
entrando nos estágios finais de sua missão a Saturno e suas luas, que
teve início com um voo orbital ao redor do planeta dos anéis, em julho
de 2004. Desde então, a sonda fez visitas repetidas aos principais dos
62 satélites do planeta para estudar sua composição e seus ambientes.
A Cassini fará um voo suicida em direção a superfície de Saturno em 2017 (Foto: Nasa)
O 'rasante'
sobre Enceladus será o mais próximo que a Cassini chegará da superfície
da lua. Todas as aproximações seguintes serão a distâncias bem maiores.
Sendo assim, o encontro dessa quarta-feira oferece a última oportunidade
real de mapear com mais detalhes os jatos gelados do polo sul.
Análises
anteriores já identificaram a presença de sais e compostos orgânicos.
Indicadores da existência de respiradouros seriam as partículas de
sílica e metano.
No ano que vem,
a Cassini iniciará uma série de manobras que a colocarão em órbitas que
atravessarão e sobrevoarão os anéis de Saturno. E, em 2017, quando o
combustível da sonda se esgotar, seus controladores darão um comando
para que ela mergulhe na atmosfera do planeta, onde será destruída".
Fonte: G1